Um caminho na cerâmica - Por Humberto Levy e Taís Beltrame

16 DE JULHO DE 2025
Fotos por: @jadeluzardo
Em meio às buscas por desacelerar e perceber-se no espaço, Humberto Levy e Taís Beltrame encontram através da cerâmica a conexão com a matéria e suas formas. Uma prática que envolve atenção ao tempo que se descontinua através dos ritmos, pausas e possibilidades de brincar com a terra, o fogo, a água e o ar.
Acompanhando-os em um dia de processos cerâmicos no ateliê, percebemos algo que deu ainda mais sentido a esse encontro: cerâmica é analógica
Descobrimos paralelos entre a cerâmica e a fotografia analógica, que começam no tato de lidar com a argila ou com o filme, na criatividade pelo desconhecido, tendo noção de que o resultado de uma peça pós queima e uma foto pós revelação pode ser completamente diferente do que imaginamos. Seja no tamanho final de um prato, ou o percalço de quando a peça explode no forno, por alguma bolha de ar. É a mesma sensação quando descobrimos que a foto queimou por vazamento de luz ou ficou fora de foco. 
O respeito pelo tempo das coisas dita o caminho de ambas as práticas. 
“Já experimentamos diversas formas de produzir cerâmica, incluindo queimas autônomas de alta e baixa temperatura, que nos ajudaram a compreender os fundamentos do barro queimado e a cultivar autonomia técnica em diálogo com o conhecimento ancestral. Esse percurso nos ensinou que a cerâmica é uma arte que se faz com o tempo — e que precisa ser praticada. O gesto cerâmico se aprende na tentativa, no erro, na repetição e na escuta, e até no cheiro do material.”
A marca Camino se revela também no símbolo das mãozinhas em saudação: o ka, sinal gráfico egípcio que remete ao sopro vital e ao eterno caminhar. As mãos juntas, sincronizadas, moldam o barro, abraçam, experimentam e deixam marcas em um trabalho que é feito pelo gesto. São mãos instrumentos, que permitem que a matéria se transforme.
Na Camino, acreditamos que os sentidos sabem antes das palavras, e é com elas que cultivamos um fazer atento, sensível e ético. É também com a alma livre, leve, do eterno caminhar que compreendemos nossa pequenez perante um fazer que é quase tão antigo quanto a humanidade.”
A Camino nasceu da prática compartilhada de Levy e Taís, mas também de um aprendizado coletivo no Ateliê de Cerâmica da UFPel, onde ambos são formados professores de artes com a orientação do mestre e também ceramista Paulo Renato Damé. A origem de aprendizagem coletiva, em ateliê, permanece como valor central do ateliê Camino, enquanto experimentação e desejo, mas também como possibilidade de ensino-aprendizagem.
Para eles, a marca se desenrola em coletividade, quando os amigos e clientes, ceramistas ou não, tem seu cotidiano reencantado pela arte, pelo encontro, pela cerâmica. Cada nova fornada reafirma esse compromisso com 'ceramicar' como forma de habitar o mundo.
Analog Journal Artists - Camino Cerâmica
Pelotas, RS 2025